quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Casa Basca do RGS apresenta matéria com uma matriarca da família Zabaleta Irigon. Vale conferir!!

João Irigon Zabaleta e Dora Silva Zabaleta (1919)
Mantive um bate papo telefônico com uma matriarca basca, Dora Maria Irigon Vinhas, nascida Dora Maria Zabaleta Irigon num dia 26 de abril, em Pelotas, mas criada até a juventude na zona rural do município de Pedro Osório, então distrito dos municípios de Canguçu e Arroio Grande!. Há cerca de pouco mais de um mês conheci Dora Maria em um jantar de confraternização do núcleo da Casa Basca do RGS em Pelotas. Foram poucos momentos compartilhando a mesma mesa, mas tempo suficiente para aguçar minha curiosidade.
Dora Maria, pensei, é bem basca: altiva, uma mulher elegante e de uma personalidade que supera a sua própria beleza. Gosta de assuntar, o que me levou a crer que poderia estar interessada em contribuir com nosso blog. Pedi ajuda a um dos filhos para intermediar o pedido de bate papo e a autorização para trazer a público algumas de suas informações pessoais e familiares. Dora Maria concordou, mas já nos primeiros instantes de nossa conversa, superadas as amenidades iniciais, foi dizendo num tom de brincadeira que foi um pré aviso dos limites por onde eu poderia transitar: - “Uma vez uma pessoa me perguntou se poderia me fazer algumas perguntas sobre uma pesquisa qualquer, eu disse que sim, mas desde que não perguntasse minha idade e meu peso”! Não me atrevi a perguntar o peso e, como podem observar no parágrafo inicial, omiti o ano de nascimento. Afinal, quem sou eu para contrariar uma matriarca basca que carrega em sua carga genética os nomes ZUBILLAGA, IRIGON E ZABALETA(1)? Dora Maria é filha de JOSÉ LOPES IRIGON e ZAIDA ZABALETA IRIGON. Seus avós paternos eram MIGUEL RAIMUNDO ZUBILLAGA IRIGON e ERNESTINA LOPES IRIGON; os avós maternos, JOÃO BAPTISTA ZABALETA E DORALINA DA SILVA ZABALETA.Dora Maria é cirurgiã-dentista aposentada, mãe de três filhos homens, Ricardo, Átila Ricardo e José Ney e avó de seis netos, “dois de cada um”. Uma mulher de fala fácil, simples, de uma inteligência bem-humorada e um linguajar bastante jovial. Muita clara em suas manifestações e com reações filosóficas abertamente expostas entre uma resposta e outra. Tenho a sensação de que Dora Maria sempre foi uma mulher a frente de seu tempo. Naturalmente que minha curiosidade inicial estava direcionada para a história de seus avós e bisavós, saber um pouco de sua memória, tendo minha entrevistada, mais de uma vez, lamentado pelo desaviso familiar em não manter tantas informações mais precisas. Mesmo assim, contou suas lembranças de ambos os núcleos, iniciando pelos avós paternos, com os quais teve mais convívio, já que a família, pelo menos até o tempo em que veio “para a cidade” estudar, vivia e convivia na zona rural. Aliás, repetiu que o avô paterno ficou triste quando a moçoila resolveu estudar em Pelotas, o que, segundo ele, poderia frustrar o projeto de manter o núcleo unificado em torno das terras da família. Dora Maria não sabe dizer o que é ser basca, mas toda vida soube que era basca, sentia e sente profundo orgulho da história de seus antepassados e mantém na lembrança a afirmação do avô Miguel Raimundo que a família teria vindo de algum lugar nos Pirineus. Chegaram inicialmente no Uruguai, tendo se estabelecido na zona de Paysandú para, mais adiante, ingressarem em território brasileiro. Miguel Raimundo trabalhou com charque em Pedro Osório, montando seu próprio negócio juntamente com um irmão. Muito disciplinado, com o resultado do negócio com o charque comprou terras onde, naturalmente, passou a criar gado e ovelhas. A lembrança do avô paterno é de um homem muito trabalhador, também tendo sido proprietário de um matadouro. Afirmava que trabalharia até os 52 anos, e assim o fez, passando as terras da família para os filhos. Também manifestava abertamente tratar-se de um ateu, ainda que, contraditoriamente, utilizasse uma frase que acabou sendo carregada no seio familiar: “Deus que te marcou, alguma coisa te encontrou”. Apesar da rusticidade, o avô paterno é descrito por Dora Maria como um homem gentil, leal e confiável, mas que a deixou bastante aborrecida quando torceu e vibrou com a vitória do Uruguai sobre o Brasil na copa de 50, jogo que foi acompanhado em um rádio com a transmissão rudimentar daqueles tempos. Fisicamente o avô é descrito como um homem de nariz e orelhas “graúdos”. Em contraposição à rusticidade dos avós paternos, a lembrança dos Zabaleta tem uma feição mais cosmopolita. O Avô João Baptista Zabaleta era um “homem do mundo”. Trabalhava com hotéis e entretenimento, tendo relação intensa com agitação da vida cultural. Também empreendedor, investiu em negócios de hotéis, vindo a ser proprietário do Grande Hotel, em Pelotas, prédio que por muitos anos pertenceu à familia Zabaleta e onde foi celebrado seu próprio casamento. Mantinha nos porões do Grande Hotel um cassino clandestino. Segundo Dora Maria, os porões do Grande Hotel tinham uma vida intensa e glamourosa. O avô Zabaleta era, segundo a neta, um “bon vivant”, muito inteligente e com um sofisticado senso de humor. A lembrança física do avô está ligada ao uso roupas elegantes e polainas, bem como ao hábito dominical de visitar sua mãe em um “carro de praça”, como eram chamados os taxis antigamente. Diversamente do avô paterno, João Baptista Zabaleta manifestava interesse em questões relacionadas à espiritualidade, muito embora não frequentasse nenhum tipo de culto religioso. A neta lembra que, certa vez, acometido de um problema de saúde, fez consulta espírita, doutrina que é seguida por ela própria e parte de sua família. Pergunto sobre o papel das mulheres na família e Dora Maria descreve as mulheres da família Irigon como sendo mais dóceis, enquanto as Zabaleta mais resolutas e “donas de seu nariz”. Estão vivas as lembranças de bolachas caseiras e mesas sempre postas, pequenas delicadezas e doçuras que procura repetir com filhos e netos. Dora Maria nunca viajou ao Pais Basco e somente muito recentemente passou a ter informações e indagações sobre a sua origem. Atribui a falta de informações à natureza simples e campesina de sua família. Afirma que ao assistir recentemente a palestra do professor Mikel Ezkerro(2), historiador basco argentino, ficou muito tocada com as informações sobre as dificuldades dos bascos que imigraram, lembrando de uma passagem contada por seu avô Zubillaga Irigon. Segundo ele, seu pai (bisavô de Dora Maria), teria viajado do Pais Basco até Montevidéo em um navio com condições bastante modestas e, devido ao longo tempo de duração da viagem e às precárias condições de higiene, a certa altura, a água potável ficou contaminada e impregnada de um mau cheiro insuportável. Mesmo assim, para que não padecessem de sede, os viajantes improvisavam cânulas que permitiam beber a água afastando o rosto do seu odor fétido. Também conta que, Miguel Zabaleta, seu bisavô, pai de João Batista Zabaleta, teria falecido em um navio, tendo o corpo sido jogado ao mar. Não resisti e perguntei à Dora Maria qual era seu sentimento em relação ao tema basco, tendo ela respondido que, por vezes, era tomada por um sentimento de nostalgia e frustração por não dispor de maiores informações. Ainda assim, mesmo desconhecendo a história dos bascos e plenamente a história de sua própria família, Dora Maria afirma que, internamente, tem sentimentos de segurança, certeza e orgulho. Antes de finalizar o telefonema pergunto se Dora Maria teria alguma coisa a acrescentar. Diz que pretende participar de todos os eventos da Casa Basca do RGS daqui por diante, bem como estimular a que mais familiares se integrem à comunidade em formação. Peço à entrevistada se poderia deixar uma mensagem para os leitores do blog, mas a matriarca basca afirma não estar inspirada, preferindo refletir sobre o que tem aprendido diante de todo este processo de descobertas, redescobertas e lembranças. Delicadamente me diz que, tão logo tenha algo em mente, mandaria informar por algum de seus filhos. Encerramos o bate papo e fiquei a pensar que Dora Maria Irigon Vinhas, nascida Dora Maria Zabaleta Irigon, mesmo com a reserva manifestada, já passou a mensagem aos leitores.Eskerrik asko!! 

Porto Alegre, 28 de agosto de 2013.
Ana Luiza Panyagua Etchalus
Presidente Casa Basca do RGS – Euskal Etxea do RGS


 – ZUBILLAGA – lugar de pontes, ou lugar de troncos - nome aparece em Mondragon, Guipuzcoa, em 1342
- ZABALETA – lugar extenso, ou lugar dos Zabalas – nome que aparece em Askoitia em 1415 e Mondragon, Guipuzcoa;
- IRIGON, derivação de IRIGOYEN – vila alta, ou “helechal elevado” – aparece em Urdax, Azpilkueta e Errazu, Navarra, em 1755. Também nome encontrado em Ustaritz, Labourdi.

Fontes pesquisadas: Etimologias de Apellidos Vascos – Issac Lopez Mendizabal, Buenos Aires, 1958); Apellidos Vascos Americanos – Alberto Sarramone – Buenos Aires – 2007.

(2) – Em junho de 2013 a Casa Basca do RGS promoveu um Encontro de Cultura Basca na cidade de Pelotas, ocasião em que foi convidado a palestrar o professor e historiador basco argentino, Mikel Ezkerro.


Um comentário:

  1. Ana Luiza, gostariamos deretomar o contato com voces. Nos interessa a genealogia das famíias bascaas de Pelotas. Um grande abaço, Vera

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