O DIA EM QUE APREENDI A LÍNGUA BASCA , EUSKERA.
Por Claudia Etchepare
Adão e Eva falariam basco? Uma hipótese
surpreendente foi publicada por um padre basco durante o século XVIII. Euskera
é considerada uma ilha linguística. Sem
semelhança com qualquer língua viva ou extinta, há quem diga até que é a mais
antiga do mundo. Atualmente, há um forte movimento de valorização do euskera. E
a Casa Basca do Rio Grande do Sul cumpre, mais uma vez, o importante papel de difundir
a cultura basca: na semana passada recebeu a professora e filóloga basca IZASKUN
KORTAZAR para ministrar um curso intensivo de euskera. A integração dos
basco-descendentes foi emocionante e coroada pelo primor das aulas ministradas
pela nossa professora, que mora em Idaho, EUA. O que dizer da experiência de
ser apresentada a uma ferramenta tão complexa como a língua basca? Uma língua que tem a máxima Izena Zuen guztia
omenda - Tudo aquilo que tem nome existe
- como um preceito de vida ?
Digo que esta experiência me fez entender que
uma cultura densa e antiga como a basca precisa fazer uso de uma ferramenta de
peso para operá-la. A língua basca traz
incrustada na sua memória milenar preciosos conteúdos históricos. São
expressões genuínas de seus costumes, termos não pronunciáveis para os
ingredientes de sua rica gastronomia e, em especial, uma sonoridade que não
deixa dúvida quanto à determinação implacável de sobrevivência desta raça.
Aprender os sons tribais e intricadas
estruturas da língua basca foi para mim um orgulho, um complexo desafio e um
encantamento. Tenho a esperança de um dia poder interagir nesta língua, nem que
timidamente, com um povo cujos nomes das famílias são topônimos, o que indica
um laço muito forte com a terra e que, paradoxalmente, define sua identidade
nacional usando o termo euskaldun - basco-falantes- para denominar um basco. A terra basca
reclama e acolhe como basco toda e qualquer pessoa que fale euskera, independentemente
de qual seja a sua origem ou de onde more. Tomar posse dos rudimentos da língua
dos meus ancestrais ajudou-me a entender a magia que envolveu a mim e ao meu
marido ao percorrermos de carro os vilarejos bascos entre Espanha e França, ao
pé dos Pirineus. Apesar das placas parecerem nos xingar e os sons do povo
soarem como oriundos de um filme mitológico, partimos preenchidos de sensações
e conhecimentos estranhamente bem maiores dos que os nossos ouvidos e olhos
humanos captaram.
É desta magnitude a cultura encapsulada na
língua euskera.
Se eu aprendi, realmente, a me comunicar em
euskera? Convenhamos, uma língua destas não é para se aprender. É para se
apreender. Com todos os sentidos do corpo e com a profundidade da alma.
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