sexta-feira, 22 de maio de 2015

"O dia em que apreendi a Língua Basca, Euskera" por Cláudia Etchepare


O DIA EM QUE APREENDI A LÍNGUA  BASCA , EUSKERA.

Por Claudia Etchepare


Adão e Eva falariam basco? Uma hipótese surpreendente foi publicada por um padre basco durante o século XVIII. Euskera é considerada uma ilha linguística.  Sem semelhança com qualquer língua viva ou extinta, há quem diga até que é a mais antiga do mundo. Atualmente, há um forte movimento de valorização do euskera. E a Casa Basca do Rio Grande do Sul cumpre, mais uma vez, o importante papel de difundir a cultura basca: na semana passada recebeu a professora e filóloga basca IZASKUN KORTAZAR para ministrar um curso intensivo de euskera. A integração dos basco-descendentes foi emocionante e coroada pelo primor das aulas ministradas pela nossa professora, que mora em Idaho, EUA. O que dizer da experiência de ser apresentada a uma ferramenta tão complexa como a língua basca?  Uma língua que tem a máxima Izena Zuen guztia omenda  - Tudo aquilo que tem nome existe -  como um preceito de vida ?
Digo que esta experiência me fez entender que uma cultura densa e antiga como a basca precisa fazer uso de uma ferramenta de peso para operá-la.  A língua basca traz incrustada na sua memória milenar preciosos conteúdos históricos. São expressões genuínas de seus costumes, termos não pronunciáveis para os ingredientes de sua rica gastronomia e, em especial, uma sonoridade que não deixa dúvida quanto à determinação implacável de sobrevivência desta raça.
Aprender os sons tribais e intricadas estruturas da língua basca foi para mim um orgulho, um complexo desafio e um encantamento. Tenho a esperança de um dia poder interagir nesta língua, nem que timidamente, com um povo cujos nomes das famílias são topônimos, o que indica um laço muito forte com a terra e que, paradoxalmente, define sua identidade nacional usando o termo euskaldun - basco-falantes-  para denominar um basco. A terra basca reclama e acolhe como basco toda e qualquer pessoa que fale euskera, independentemente de qual seja a sua origem ou de onde more. Tomar posse dos rudimentos da língua dos meus ancestrais ajudou-me a entender a magia que envolveu a mim e ao meu marido ao percorrermos de carro os vilarejos bascos entre Espanha e França, ao pé dos Pirineus. Apesar das placas parecerem nos xingar e os sons do povo soarem como oriundos de um filme mitológico, partimos preenchidos de sensações e conhecimentos estranhamente bem maiores dos que os nossos ouvidos e olhos humanos captaram.
É desta magnitude a cultura encapsulada na língua euskera.

Se eu aprendi, realmente, a me comunicar em euskera? Convenhamos, uma língua destas não é para se aprender. É para se apreender. Com todos os sentidos do corpo e com a profundidade da alma.


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